conto | Monte dos Beijos

Conto erótico escrito por Willian Gabriel Munhoz @doverboluar

Ilustrações por Nathan Tuglia @b.e.e.p.16

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Parei o carro embaixo de uma árvore e sentei no capô para ver o pôr do sol. Aquele pasto era bem frequentado por oferecer uma vista incrível da cidade, mas aparentemente estava só eu por ali. Abri um latão e acendi meu beck, deixei o rádio baixinho, tocando Oasis.

 As cores faziam uma escada de sorvete no céu; pêssego, laranja, morango, cereja… tudo derretendo em muito limão. O calor estava agradável e a brisa suave, dava pra fumar e se refrescar sem precisar ficar acendendo o banza toda hora ou jogando o resto da cerveja por esquentar muito rápido.

 Mais ou menos meia hora que já era noite e a atmosfera melhorou, alguns vagalumes inclusive brincavam lá na frente, bem depois, abaixo do barranco. Estrelas se revelando acima e ao redor pelo horizonte, mostrando a inspiração das decorações natalinas pelo caminho. Mudei a estação para Beyoncé e curti a vibe. A cidade agora fervia em vultos de luzes e pontilhados dos postes, que a essa distância eram como velas num grande bolo aceso no horizonte.

 Fui ao lado do passageiro do carro e me enfiei pela janela para pegar a bolsinha do bagulho no porta-luvas. Quando saí, outro carro chegou e parou há alguns metros. Dois caras dentro dele, o motorista acenou e retribui o aceno. Tocava 6 Inch nesse momento.

 Daí eu já tinha dichavado, tava bolando, um deles se aproximou, acho que o outro, que eu não tinha visto direito. Estava uma noite bem clara, então mesmo com seu rosto em sombras, dava para ver que seus traços me atraíam, principalmente por terem algo de gentil neles, misturados com um olhar firme.

– E aí, tudo bem? – ele perguntou se aproximando – você tem uma seda pra me arrumar?

 – Opa, tenho sim, claro – estendi a mão com a caixinha de seda pra ele –  pega duas.

 – Ah, valeu.

–  Por nada.

 Ele se afastou e reparei uma tatuagem no pescoço, abaixo da nuca e de seu cabelo raspado, mas não dava para ver o que era. Também posso acrescentar que ele era cheiroso. Enfim.

 Eu estava indo para o terceiro e penúltimo latão. No fim do segundo beck. Já tinha passado a Bey, a Rihrih, agora ouvia Katy e já dançava sozinho meio besta de chapado.

– Oi de novo – o moço que eu ainda não sabia o nome apareceu do meu lado; perto demais talvez, para o nível de introspecção que eu estava. Levei um susto e dei um grito breve, mas esquisito. Ele pediu desculpas, mas segurava um riso.

– Tudo bem, eu só não tinha visto você chegando. – respondi com cara de bobo, imagino.

 Ele se apresentou –  Gustavo;  e me convidou para me juntar aos dois; ao mesmo tempo que o outro cara já estava estacionando ali ao lado. Então desceu com um sorriso amigável, mão estendida, cumprimentamo-nos, e ofereci o último latão. Eles estavam bebendo vodka com energético, tiraram um cooler do banco de trás, com gelo e um copo extra – que tomei posse depois; também pegaram um pano bem grande e estenderam no chão entre os carros, para sentarmos.

 Conversamos muito enquanto bebíamos e me contaram que estavam no começo de um namoro. O Gustavo tinha se mudado para a cidade há alguns meses e estava trabalhando no mesmo lugar que o Marcelo, onde se conheceram. Um pet shop na avenida principal. Marcelo trabalhava lá há cinco anos, disse que o último gerente, embora eficiente, era um escroto, mas por sorte, o atual era um anjo.

– E como é pra vocês trabalharem juntos, em relação aos outros funcionários? – perguntei.

 – Ah, é de boa – o Gustavo respondeu – a galera sempre foi amiga do Ma, e foram super acolhedores quando cheguei.

– É fácil acolher um cara lindo desses, não acha? – Marcelo me perguntou enquanto apertava o queixo do Gustavo.

 – É sim, vocês formam um lindo casal inclusive.

– Obrigado – Marcelo respondeu, dando um beijão na boca do Gustavo.

 Contaram mais sobre a loja, sobre esses meses de adaptação. Era a segunda vez que Gustavo trabalhava como gerente, mas a primeira tendo sua sexualidade assumida e ainda por cima, namorando outro funcionário. Falei um pouco de mim, das delícias e tédios de se trabalhar em uma biblioteca, da minha jornada de independência em me mudar de uma cidade menor, etc. Descobrimos que eles moravam perto do meu trabalho, que éramos os três librianos e que Marcelo e eu compartilhávamos o veganismo.

 A certo ponto, sinceramente, nem sei como ainda tínhamos papo. Mas definitivamente estávamos muito bêbados e falando enrolado. Já tinha visto dois carros pararem ali perto, beberem, fumarem e ir embora. Não tinha noção da hora, mas também não me importava. Fazia um bom tempo que era só a gente ali.

 O Gustavo se levantou pra fazer xixi e o Marcelo foi atrás, mas pararam a um metro, de costas para mim e de frente para a noite e a cidade dentro dela.

– Hey, Rô – o Gustavo quem me chamou – vamos ver quem mija mais longe?

 Comecei a rir e levantei, parando entre os dois. Tirei o pau pra fora e cantarolei até começar a fazer xixi. Olhei para eles, estavam rindo e fazendo xixi também. Poderia ser bem erótico até, além de idiota – e foi; mas neste momento, assim como você que estiver lendo, eu só tinha o som dessa cena e as sensações do ambiente, pois havia escurecido mais, e sendo asssim, ninguém saberia dizer quem ganhou.

 Voltei para o pano e eles também, Marcelo me joga um papinho de que não deu para ver quem tinha o pau maior. E o Gustavo respondeu que se ele se importava com aquilo, eles teriam que conversar. Ficou um climão por uns quinze segundos e começamos a rir. Enquanto ríamos, eles começaram a se beijar e de repente, de alguma forma – eu juro que não lembro – era um beijo triplo e a mão do Gustavo estava dentro da minha camiseta.

 Parei por um segundo, afastei-me do rosto deles, olhei bem para seus olhos iluminados pela luz tímida de um lampião de plástico em cima do carro. Os do Gustavo, castanhos como os meus, os do Marcelo, pretos como pérolas. Um triângulo de segurança se formou e voltei-me à salada de lábios.

  Agora, de olhos fechados, apenas senti. A mistura dos perfumes e os vinte dedos correndo meu corpo, às vezes todos, às vezes, quinze, às vezes, dez, cinco, nenhum, todos outra vez… E os meus correndo um corpo, correndo por dois, em nenhum, vagando no ar de uma pele para outra, de volta aos dois outra vez… Membros se jogando em cima de membros… A coxa do Marcelo em cima da minha, a parte esquerda da bunda encaixada com a minha cintura; o pé do gustavo em cima da minha canela. Nós três excitados, nós três ainda vestidos.

 Pescoços beijados, pálpebras beijadas, braços beijados, viramos máquinas de beijos, datilografando carícias quentes como pães de queijo saindo do forno. E a fome aumentando, a consciência focando e as roupas saindo viradas nos forros. De repente o Marcelo pegou meus punhos, juntou atrás das minhas costas com uma mão e segurou meu pescoço com a outra. O Gustavo veio de lado, abaixou minha calça, minha cueca e enfiou a cabeça embaixo das minhas pernas, chupando minhas bolas.

 Olhei para baixo enquanto ele se ajeitava, antes dele virar o rosto e quase me fazer gozar só usando a língua na minha próstata; e de perto pude reconhecer o desenho de sua tatuagem abaixo da nuca, era uma árvore dentro de um círculo, com os galhos e raízes saindo para fora. Ele me explicou depois, significava liberdade dentro do que ele via como ordem; achei bonito isso que ele disse e a tatuagem também. Mas quando senti ali embaixo ficar úmido e a carne passeando entre os meus pelos, tudo que pude fazer foi gemer.

 Ficamos assim por um momento, enquanto Marcelo beijava minha boca, meu pescoço e orelha e Gustavo chupava minhas bolas, às vezes lambia o começo do pau. Depois revezaram, fazendo-me sentir um rei que haveria de ter encomendado orgamos para uma noite casual.

 Até que estávamos os três eretos, beijando e beijando de novo, em dois, em três, as mãos nas bundas, nas costas, em mamilos, clavículas… Então a palma da minha mão direita parou na bunda do Gustavo e quando apertei e um gemidinho saiu de sua boca dentro da minha, abaixei imediatamente e comecei a lamber o seu cu, apertando ainda mais os dois lados da bunda, às vezes mordendo. Agora eles se beijavam e eu lambia e mordia e chupava a bunda e o cu do Gustavo, como quem cuida do palácio, como quem aprecia um banquete, como quem nina um amor querido, como quem bebe água em tarde quente.

 Marcelo se abaixou e pegou duas camisinhas no bolso de sua calça, olhou para nós dois e perguntou se estávamos afim. Eu disse decididamente que sim, Gustavo também. Enquanto ele pegava um lubrificante em seu carro, continuei cuidando da bunda do Gustavo, com todo carinho do mundo.

 Quando voltou, abaixou-se atrás de mim, colocou o dedo melado de gel no meio da minha bunda e passou, colocando a pontinha um pouco lá dentro e girando. Repetiu isso duas vezes, beijando minhas costas e passando uma embalagem para minha mão. Foi quando me levantei, passei o lubrificante no Gustavo e coloquei o meu pau dentro dele. Ao passo que me empinei um pouco e o Marcelo colocou o dele dentro de mim.

 Senti meu cu sendo comido enquanto meu pau era recebido em outro, e meu corpo nem pendia, nem era esmagado. Fluímos como uma dança ensaiada, dando espaço e apoio um para o outro. Enquanto a madrugada inundava tudo ao redor, com a cidade se fazendo um risco dourado embaixo de um infinito azul prateado. Orgasmos e orgasmos. O cheiro de sereno no mato, o suor salgado descendo em afetos. O encontro de barrigas e costas, os equívocos de palavras que são apenas sons, os cabelos derrubando perfumes, os peitos pegando fogo nos gestos.

 Quando me vesti de novo, perto das três da manhã e me deitei atrás do Marcelo no pano, que dormia formando conchinha no Gustavo, percebi que estava grudando de porra, que minhas meias estavam marrons de terra e que tinha folhas nas roupas.

 Os dois dormiam como bebês, e nós três fedíamos a álcool. Mas deu tudo certo quando amanheceu, recolhemos o lixo, bebemos água e marcamos um próximo encontro…

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